Concílio de
Niceia e a criação do Jesus Super herói Concílio de Niceia e a criação do
Jesus Super herói Esse artigo sobre a vida de Constantino I, o imperador mais
importante da história do Império Romano.
Constantino
obteve uma vitória esmagadora sobre o seu rival oriental Licínio, tornando se
o governante único do império.
Esse confronto deixou ainda mais claro para o
novo imperador a importância da religião para a manutenção da paz. Agora com o
controle total nas mãos e sem nenhum rival direto ao trono, Constantino tinha
todo o tempo do mundo para pensar em maneiras de solidificar seu poder. Mesmo
sem ter sido batizado, uma das primeiras medidas tomadas por ele foi afirmar o
direito do imperador em intervir e exercer autoridade absoluta sobre todas as
decisões relacionadas à Igreja.
Constantino associou de maneira irreversível a
Igreja ao Estado. Para derrotar todas as outras religiões, era necessária a
criação de uma ortodoxia definida, isto é, a formulação de uma opinião correta
para que todas as outras pudessem ser rejeitadas. Paganismo O termo pagão teve
origem no vocábulo em latim paganus, que se refere “àquelas pessoas que vivem
no campo”.
No período em
que Constantino unificou o Império, a parte oeste ainda era composta fortemente
por uma maioria pagã. O calendário de festejos anuais era todo baseado em
tradições e crenças pagãs. Enquanto isso, no leste, o Cristianismo ganhava mais
e mais espaço, principalmente na região norte da África e no Oriente Médio.
Talvez devido às suas raízes pagãs, o imperador Constantino não foi responsável
pelo inicio do meticuloso extermínio em massa dos adeptos do paganismo que
viria a ser arquitetado num futuro próximo pela Igreja.
Entretanto, durante seu longo reinado, a maior
parte dos bens e riquezas contidos nos templos pagãos foi confiscada e
transferida para igrejas cristãs. Festivais sexuais e a tradição dos sacrifícios
também foram estritamente proibidas. Festival pagão da Bacanália Festival pagão
da Bacanália Constantino estipulou políticas governamentais que forneciam
generosos incentivos fiscais, políticos e financeiros para aqueles que
contribuíssem com a construção de igrejas, ao mesmo tempo em que os templos
pagãos eram invadidos e saqueados.
Constantino entendia mais do que ninguém a
importância da unidade religiosa do Império. A única forma de manter sua
dinastia no poder de Roma durante anos, mesmo após a morte poderia ser
alcançada através de uma religião única, sólida e sem contradições. Era preciso
formular um código, estipular um conjunto de padrões considerados corretos,
definir os traços de conduta ideais a ser seguidos por um cristão.
O cristianismo
não poderia ser mutável como as doutrinas pagãs, pois correria o risco de ser
substituído por uma nova tendência anos mais tarde. Com essa proposta em mente,
Constantino passou a intervir livremente e com total poder nos processos de
fundação da estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana e da imagem da
figura conhecida como Jesus. Arianismo Por incrível que pareça, a maior ameaça
ao projeto de unidade religiosa do Império Romano visualizado por Constantino
não viria do paganismo, mas de disputas filosóficas internas do clero católico.
O conflito
ideológico mais importante intermediado por Constantino teve origem na cidade
de Alexandria, no Egito. Durante essa época, essa cidade era o centro cultural,
filosófico e teológico do Império. Grandes mentes viajavam para lá em busca de
mestres que pudessem ajudá-los na busca pelo conhecimento. Um desses mestres
era o presbítero cristão Ário.
Segundo a sua
teoria, Jesus não era da mesma substância que Deus, mas sim a emanação mais
pura do Pai a ter vivido na Terra. Tal conceito não era novidade para uma boa
parte dos filósofos e, inclusive, para alguns dos discípulos de Jesus. Como
você viu no artigo sobre o Evangelho de Tomé e a Busca do Conhecimento, o
próprio Tomé enxergava Jesus como um homem “comum”, mas dotado de um espírito
divino e imortal.
Essa teoria
recebeu o nome de Arianismo, em homenagem ao seu mais fiel partidário. [favor
não confundir com a ideia da raça superior proposta por Hitler durante a
agressão nazista] Ao mesmo tempo em que ganhava força, o Arianismo também
conquistava um grande número de inimigos. O mais ávido combatente dessa teoria
foi o bispo Alexandre. Indignado com a proposição da ideia de que Jesus não era
Deus, o bispo iniciou uma política de repressão ao que, de acordo com suas
concepções, só poderia ser uma forma vil de heresia.
Com o passar do
tempo, a disputa ideológica tomou proporções gigantescas, contribuindo para a
expansão do Arianismo por quase toda a parte leste do Império. Constantino
percebeu que deveria agir imediatamente ou poderia presenciar o inicio de
revoltas capazes de afetar a unidade religiosa de Roma. Concílio de Niceia
Visando resolver de uma vez por todas as intrigas ideológicas internas da
Igreja, Constantino enviou um convite aos mais de 1.800 bispos de todo o
Império Romano para comparecer ao primeiro concílio ecumênico da história.
Na verdade, era mais do que um mero convite.
Os bispos que desejassem comparecer a reunião teriam seu transporte e todas as
despesas da viagem pagas pelos cofres do império. Localizada na parte Oriental
do Império, a cidade de Niceia foi escolhida para a realização do concílio
devido ao seu posicionamento geográfico que favorecia o deslocamento dos bispos
orientais. Afinal, o Arianismo era o tema principal a ser discutido no evento.
Apesar de todas as mordomias fornecidas por
Constantino, um número ínfimo de membros da Igreja Ocidental compareceu ao
concílio, pois o dilema contido no Arianismo ainda não tinha despertado o
interesse do Ocidente. O próprio Papa Silvestre optou por não comparecer ao
concílio, enviando dois mensageiros oficiais para Niceia. Isso mesmo, o membro
mais importante do clero não compareceu ao concílio que formulou as primeiras
diretrizes oficiais a serem seguidas pela Igreja. O Concílio de Niceia teve sua
abertura solene no dia 20 de junho de 325. Não se sabe ao certo o número total
de bispos que compareceram ao evento, pois nenhum documento oficial conseguiu
sobreviver à passagem dos anos, e se sobreviveu está muito bem guardado na Biblioteca
do Vaticano.
Todas as
informações obtidas sobre o concílio estão presentes nas obras de testemunhas
oculares e foram escritos alguns anos depois do fim do concílio. Curiosamente,
o personagem principal da história não pode comparecer ao concílio. Com base em
denúncias emitidas por rivais poderosos, Ário encontrava-se exilado na
Nicomédia durante o evento.
Como era de se
esperar, o Arianismo foi o primeiro tema a ser discutido pelos membros do
concílio. Eusébio de Nicomédia, ávido defensor das ideias de Ário, teve a
palavra inicial e discursou sobre o conceito do Arianismo e os ensinamentos
seguidos por ele e seus companheiros. Logo após, foi à vez do bispo Alexandre
receber a oportunidade de apresentar suas críticas contra o Arianismo. A
primeira ideia proposta por Constantino consistiu na produção de um documento,
fazendo uso dos textos sagrados do cristianismo, demonstrando claramente que o
filho não é uma criatura, mas o próprio Deus encarnado.
Naquela época,
ainda não existia a compilação de livros conhecida hoje como Bíblia. Cada
cidade possuía uma coletânea de textos considerados favoritos pela população.
Como cada apóstolo partiu para regiões diferentes espalhando a palavra de
Jesus, textos variados foram criados e cada grupo cristão possuía a sua própria
coleção de livros sagrados. Essa estratégia não deu certo, pois tanto os
defensores do Arianismo como os opositores encontraram validações para seus
argumentos nos textos sagrados. Semanas se passaram sem o menor resquício de um
possível acordo entre as partes. Contudo, o imperador Constantino não estava
interessado em debates metafísicos sobre a figura de Jesus. O que lhe causava
preocupação era a turbulência político religiosa que este impasse estava
causando na estrutura do Império Romano. Jesus Super herói Cansado de tentar
obter uma solução diplomática e mais preocupado com a união do Império do que a
com união de Deus, Constantino percebeu que a quantidade de membros do clero
contra o Arianismo era um pouco superior e emitiu o voto de minerva esperando
obter um desfecho que fosse aceitável pelo maior número de bispos possível.
O imperador
sugeriu a criação de um termo que indicaria a afirmação da divindade de Jesus,
uma união absoluta entre o Pai e o Filho. A palavra criada foi “homoousius” que
significa “da mesma natureza”. Para oficializar tal decisão, Alexandre e os
outros bispos desenvolveram uma oração onde o termo homoousius estaria incluso
e que, ainda hoje em dia, é ensinada a todas as crianças durante a primeira
eucaristia: o Credo de Niceia.
Pode se perceber que o objetivo do credo é
não deixar nenhuma brecha para a interpretação ariana. [leia na íntegra no
final do artigo] Medidas políticas também foram tomadas. Ário e seus principais
partidários foram exilados meses após o concílio. O Arianismo foi classificado
como uma doutrina herética e todos os bispos que continuassem a propagar as
ideias propostas por Ário receberiam a excomunhão da Igreja. Dessa forma, com
base na decisão unilateral do estrategista Constantino, cujo principal interesse
era acalmar os ânimos exaltados dos bispos da Igreja que tinha ajudado a
construir, Jesus deixou de ser considerado como um homem e passou a ser
oficialmente definido como feito da mesma substância que Deus.
Jesus Deus Tal
decisão abriu um precedente que contribuiu para a perseguição religiosa,
execução de “hereges” e destruição de patrimônio intelectual exercida pela
Igreja durante os milênios seguintes. Todos aqueles que acreditavam no conceito
de Jesus como semelhante passaram a sofrer uma forte repressão religiosa. Todos
os textos que apresentassem detalhes da vida de Jesus indicando características
humanas passaram a ser classificados como textos apócrifos, cuja leitura estava
explicitamente proibida e, em sua grande maioria, foram destruídos pelo fogo. É
por esse motivo que muitas pessoas acreditam na ideia de que os livros da
bíblia foram selecionados durante o Concílio de Niceia. Apesar disso não ser
inteiramente verdade, podemos perceber como a decisão de Constantino
influenciou drasticamente a futura composição do livro sagrado do Cristianismo.
Analisando por uma perspectiva política, é possível compreender porque
Constantino posicionou se contra as ideias de Ário.
É muito mais
fácil controlar uma população fiel à crença de que Jesus é um ser diferenciado,
nada comparado ao cidadão comum, do que uma população confiante na ideia de que
todos somos irmãos de Jesus, em níveis diferentes na escala da evolução
espiritual, mas com o mesmo corpo físico utilizado por Jesus durante sua vida
na Terra. Após a resolução sobre o tema do Arianismo, o concílio ainda durou
algumas semanas e outras decisões importantes foram tomadas durante o restante
do evento.
O domingo passou a ser considerado o dia
sagrado do descanso, substituindo o sábado. Também é possível perceber a
influência de Constantino nessa decisão, afinal, como vimos nos primeiro
artigo, ele era um profundo devoto do deus solar Apolo. Nada mais justo do que
transformar o dia do sol no dia mais sagrado da nova religião do seu império. A
questão da Páscoa também foi discutida durante o concílio e uma data oficial
para a realização dos festejos foi fixada. Além disso, cerca de 20 cânones
(regras) de disciplina eclesiástica foram criados e passaram a ter efeito
imediato sobre os membros do clero.
Constantinopla Com o enfraquecimento do
Arianismo, as disputas ideológicas dentro da Igreja perderam força devido ao
rígido combate exercido contras as doutrinas “heréticas” após o precedente
aberto em Niceia. Constantino compreendeu a dificuldade de remover as crenças
pagãs intrínsecas na tradição romana. Por esse motivo, a cidade de Roma não
poderia mais ser o centro do Império. O imperador precisava de uma capital onde
fosse possível obter uma comunhão integral entre Estado e Igreja.
Sete anos antes
de falecer, Constantino decidiu construir a mais imponente cidade do Império
Romano. Localizada em um ponto comercial estratégico na região da metade
oriental do império, a cidade de Bizâncio, de maioria cristã, viria a ser
totalmente reconstruída, tornando-se a mais gloriosa cidade da época. A
fundação solene da nova capital aconteceu no dia 11 de maio de 330, sendo
batizada com o nome de Constantinopla. Constantinopla.
Apesar de manter as aparências para evitar
revoltas em Roma, Constantino sabia que o centro de poder do Império Romano
seria transferido para lá. O imperador construiu muralhas grandiosas e passou a
distribuir trigo gratuitamente para a população, o que contribuiu para alcançar
a marca dos 500 mil habitantes num piscar de olhos.
Comprovando a
profecia, trinta e um anos após assumir o poder do Império Romano, Constantino
veio a falecer no dia 22 de maio de 337, deixando o controle do Império nas
mãos de três filhos e um legado que rompeu as barreiras do tempo, influenciando
bilhões de pessoas ao redor do mundo. Credo de Niceia “Cremos em um só Deus,
Pai todo poderoso, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. Em um só
Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da
substância do Pai.
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as
coisas foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por
causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e
ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os
mortos. Cremos no Espírito Santo.
Mas quantos
àqueles que dizem: ‘existiu quando não era’ e ‘antes que nascesse não era’ e
‘foi feito do nada’, ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus é uma hipóstase
ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e mudança, a
estes a Igreja Católica anatematiza.”
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