Antes de
prosseguir, é necessário fazer um adendo. Muitos religiosos gostam de inventar
traduções adaptadas às suas necessidades para certas palavras, normalmente de
maneira tosca e grosseira, mas que dependendo da erudição com que são
colocadas, acabam enganando os desavisados. Uma das favoritas dos fanáticos
religiosos é relacionar Daimon, Diabo ou Diabolôs com “Acusador” ou
“Caluniador”.
Pois bem:
Daimon ou Daimon significa “gênio” ou “espírito”. São os Anjos da Guarda da
mitologia católica. Já Diabo vem de Diabolôs, cujo significado está atrelado a
outra palavra bem conhecida: Símbolos. Diabolôs significa “Aquilo que nos
separa” enquanto Símbolos significa “Aquilo que nos une”. Desta maneira, uma
seita “diabólica” significa, no sentido correto da palavra, “uma seita que nos
separa”. Já a relação entre símbolo e união é bem fácil: basta imaginar um time
de futebol. O símbolo do time é o brasão que une os torcedores. Assim falou
Zaratustra, às vezes chamado de Zoroastro, é o fundador do Zoroastrismo. Ele
foi um verdadeiro iniciado, nascido na Pérsia cerca de 1.000 anos antes de
Cristo.
Desde muito
cedo, Zoroastro já demonstrava sabedoria fora do comum; aos 15 anos realizava
valiosas obras religiosas e era conhecido e respeitado por sua bondade para com
os pobres e pelo sistema religioso filosófico que criou. Seus sacerdotes, os
Magi (sábios), eram vegetarianos, reencarnacionistas, espiritualistas e
conheciam muito bem a astrologia. Zoroastro reformulou uma religião chamada
Mazdeísmo, com uma visão mais positiva do mundo. Para entender melhor esta
religião, precisamos estudar a estrutura social da época: os persas estavam
divididos em três classes; os sacerdotes, os guerreiros e os camponeses. Os
Ahuras (“senhores”) eram venerados apenas pela primeira classe, Mithra era um
Ahura venerado na classe dos guerreiros; e os camponeses possuíam seus próprios
deuses da fertilidade.
O Zoroastrismo prega a existência de um Deus
único, Ahura Mazda (“Divindade Suprema”), a quem se credita o papel de criador
e guia do universo (Keter, na Kabbalah). Desta divindade emanam seis espíritos,
os Amesas Spenta (Imortais Sagrados), que auxiliam Ahura Mazda em seus
desígnios. São eles: Vohu Mano (Espírito do bem), Asa Vahista (Retidão
suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade sagrada),
Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade). Estes seres travam uma batalha
dentro de cada pessoa contra o princípio do mal: Angra Mainyu, por sua vez
acompanhado de entidades malignas: O Mau pensamento, a mentira, a rebelião, o
mau governo, a doença e a morte.
A grande questão do bem e do mal, colocada por
Zoroastro, se resolve DENTRO da mente humana. O bom pensamento cria e organiza
o mundo e a sociedade, enquanto o mau pensamento faz o contrário. Esta opção é
feita no dia-a-dia da pessoa e ninguém pode fazer uma opção definitiva, pois
este é um processo dinâmico e progressivo. O nome Mithra (Sol) era visto como o
“Deus da Luz”. Os vedas o chamavam de Varuna e os persas de Ahura Mazda.
Zoroastro teve muitos problemas em tentar implementar a religião monoteísta,
tentando se opor aos sacerdotes de Mithra e os sacrifícios sangrentos dos
touros. Zoroastro foi assassinado por sacerdotes de Mithra no templo de Balkh.
Após este período, o culto a Mithra floresceu. Seu dia sagrado, o Solis
Invictus, é comemorado a 25 de Dezembro, mesma data do nascimento de Hórus e
celebrando a “vinda da nova luz” (claro que não existia o dia 25 de dezembro
com este nome, pois o calendário gregoriano só seria inventado muitos séculos
depois; a data era calculada pelas luas e pelos astros para cair no Solstício
de Inverno, a noite mais longa do ano). Mithra era considerado o “Filho de
Deus”; filho de Ahura Mazda, recebeu a incumbência de matar o touro primordial.
Mithra nasce em uma gruta (lembram-se do que falamos nas outras colunas sobre
cavernas, certas?) e o céu é sua casa.
Matar o touro é
o motivo principal do culto mitraico. Isto é tão importante para compreendermos
várias coisas dentro de diversas culturas que eu vou repetir: “matar o touro é
o motivo principal da religião mitraica”. E tudo isto tem a ver com Astrologia
e as precessões (você assistiu Zeitgeist, certo?). Então Mithra simboliza o
signo de Áries (o guerreiro) substituindo o signo de Touro nas Eras Cósmicas.
mithra Nos rituais Mitraicos, o boi era sacrificado e imolado (queimado), e sua
carne e sangue eram oferecidos aos sacerdotes como oferendas de poder.
Eles também
consumiam vinho e realizavam rituais sexuais, aonde através do sexo e do vinho,
chegavam ao êxtase, ou a comunhão com Deus. Do culto a Mithra também surge à
história do Minotauro, onde a cada ano, sete pares de jovens eram oferecidos em
seu sacrifício (representando os sete pecados capitais – falaremos mais sobre
isto no futuro). Teseu, o guerreiro (Áries), encontra o caminho do labirinto e
mata o Minotauro (touro), restaurando a paz. A lenda de Teseu é uma derivação iniciativa
dos cultos a Mithra. Outro aspecto cultural derivado do Mitraismo são as
touradas.
Nela, o
guerreiro entra em uma arena (a arena representa a Terra) e precisa derrotar em
combate o touro, tal qual Mithra fez com o touro primordial. No final da batalha,
o touro é imolado e servido como banquete aos sacerdotes e guerreiros da
irmandade. Na bíblia temos referência ao touro quando Moisés desce do monte
Sinai com os mandamentos (Kabbalah) e depara com os sacrifícios ao bezerro de
ouro. Outra referência astrológica. Posteriormente, os Essênios e Yeshua
(Jesus) substituem o touro imolado e o sangue pelo pão e vinho egípcios: o pão
representando o corpo de Osíris e o vinho o sangue de Osíris (“tomai e comei
todos vós; este é o meu corpo e o meu sangue que é derramado por vós” é uma
oração EGIPCIA e representa o sacrifício de Osíris).
Jesus, como
iniciado, estava celebrando o culto ao Deus Sol na chamada “Santa Ceia”. Com o
tempo, as pessoas passaram a preferir a eucaristia vegetariana de Yeshua ao
invés do banquete carnívoro de Mithra e o ritual de culto ao Deus Sol acabou se
transformando no que chamamos hoje de Eucaristia. Embora o ritual original
tenha sido modificado e sobrevivido até os dias de hoje, de uma forma ou de
outra. Os celtas também tinham o costume de fazer sacrifícios ao Deus Sol. Mas
ao invés do touro, sacrificava o Javali, símbolo do sol.
Quem já leu as
aventuras de Asterix sabe que toda vitória era comemorada com um grande
banquete celebrado por toda a vila, em uma Ágape Fraternal. O mesmo ocorria nas
legiões romanas e entre os sacerdotes Mitraicos. Note que a távola redonda
(ops, eu disse “távola”… eu quis dizer “Mesa”) ao redor da fogueira forma
justamente o símbolo astrológico do SOL (um círculo com um ponto central).
Outro costume de Batismo de Fogo, muito popular entre os soldados romanos de alta
patente, consistia no Taubólio, o ritual de sacrifício do touro.
Sobre uma forte
estrutura em forma de rede de aço, era imolado um touro pelos sacrificadores e
seu sangue escorria sobre o iniciado, que fica abaixo desta estrutura, nu, em
uma fossa escavada no chão. Ali recebe o sangue sobre a cabeça e banha com ele
todo o seu corpo. Ao sair da fossa, todos se precipitavam à sua frente, saudando-o.
Após a imolação, recolhiam-se os órgãos genitais do touro (cojones), que eram
cozinhados, preparados e servidos ao iniciado. Apesar de parecer nojento, o
ritual é impressionante…
As tradições
Mitraicas permaneceram em Roma até o século IV, coexistindo com o Cristianismo.
Em 325 DC, o Concílio de Nicéia fixou o deus “verdadeiro” e iniciou-se a queda
do culto a Mithra. Mithra é o padrinho da Igreja Católica, já que roubou sua
festa de aniversário (25 de dezembro), seu dia de celebração (as missas são
celebradas no Domingo de manhã – Dia do Sol e hora do sol), o chapéu que os
papas, cardeais e bispos usam chamasse Mitra e o templo maior de Mithra ficava
em um lugar conhecido como Colina Vaticano, que também foi “substituído” pela
Igreja principal católica. Tertuliano presenciou as cerimônias de culto à
Mithra e chamou este ritual de “Paródia Satânica da Eucaristia”, ou “Missa
Negra” e muitas das histórias bizarras inventadas sobre o “satanismo” foram
derivadas destes cultos.
Da distorção
destas festividades surgiram as famosas “missas satânicas” nas quais se “usava
uma mulher nua como altar, bebia-se sangue e comia-se carne ao invés de pão e
vinho, os sacerdotes vestiam-se de preto e usavam o terrível pentagrama” e por
ai vai. Uma mistureba de cultos celtas, gregos e mitraicos, com um pouco de
criatividade mórbida para assustar os crentes e voilá. No Concílio de Toledo,
em 447, a Igreja publicou a primeira descrição oficial do diabo, a encarnação
do mal: “um ser imenso e escuro, com chifres na cabeça e patas de bode”.
Claramente uma mistura de Mithra, Pan e
Cernunnus. Claro que quase todos nós prestamos homenagens a Mithra até os dias
de hoje: Festividades realizadas no dia dedicado ao Sol (Domingo – Sunday),
envolvendo sacrifícios de bois imolados cuja carne e sangue é consumido pelos
sacerdotes, junto com vinho ou cerveja. A Igreja Católica chama isso de
“Paródia Satânica da Eucaristia”, mas as pessoas costumam chamar estas
homenagens a Mithra de “Churrasco de Domingo”.
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